quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O desfecho, a french toast ou beijoemeliga

Era hora de dizer tchau. Digo que vou embora e ele diz que estará pronto em um minuto.
- Você não precisa ir.
- Claro que vou, imagina...
- É sério. Você vai viajar às 13h
- Dá tempo.
- Então me leve só até o metrô, já é dia, chego numa boa.
- Não, eu vou. (em tom de "e isso não é discutível, Karen Cunha")
No metrô decido que vou descer na Times Square, que é a estação que dá acesso a diversas outras linhas (como uma Sé, mais caótica ainda) e tentar comprar o maldito "Rock Band Special Edition for Playstation 2" que meu irmão havia me implorado pra comprar.
O clima era de fim, de nada mais importa, mas ele agia como se nada tivesse acontecido, traça planos para as férias de 2008 e quando reitero que dificilmente conseguiria viajar no fim-do-ano surge o plano de viagem dele para o Brasil. Ele queria alugar um carro e sair por aí, mas explico que a distância entre os estados aqui é gigantesca...
Ele se empolga com a idéia, mas no fundo eu sabia que isso não aconteceria e que dificilmente o veria de novo. Estava triste, mas exercitei o desapego.
Ele disse que sempre quis ir pra China, eu digo que acho que só terei vontade de ir lá daqui 8 anos, então ele estendeu a mão e disse "está combinado então, daqui 8 anos a gente vai". Digo que ele está responsável por aprender a falar chinês, afinal, não tinha nem certeza se aprenderia falar inglês até lá.
Descemos do vagão, peço pra ele não sair da estação e pegar o metrô de volta. Ele diz que vai subir e me acompanhar até o limite da hora de voltar.
Era uma manhã bastante fria e horrenda, ele me oferecia a mão como se tudo estivesse bem, mas eu sabia que não estava. Seguimos andando pelas ruas vazias e falando sobre como estaríamos daqui a 8 anos. As lojas ainda estavam fechadas e os lugares (que normalmente eram atolados de gente) pareciam tristes. A cidade era outra.
- Eu estarei com 33 anos.
- Eu também. Velho, não?
- Nossa, com 33 eu já tenho que ter dinheiro, um trampo decente, ser diretora de alguma galeria e ter morado um tempo em NY.
- Mas seu trabalho já é incrível...
- Ah mas, não vai durar muito, além do mais eu não ganho o suficiente e por favor, tenho estar muito melhor daqui 8 anos.
Ele se chateia:
- Eu não me importo com dinheiro. Acho que ser feliz é bem melhor.
- Ah, mas uma coisa não anula a outra - respondo
- Uau, sua filha vai estar com 13 anos!
- Não, Karen, 11... Nossa não quero nem pensar nisso.
- Ela vai te dizer coisas como "Pai, vou dormir na casa do Paul pra fazer um projeto de ciências” ·
- Pára com isso, Karen.
- E você vai ficar uma fera...
- Eu não quero nem pensar nisso, ela já não me respeita agora e... (ficando nervoso de verdade)
Ele encerra o assunto, puto da vida, eu me divirto fazendo todo tipo de provocação.
Passamos pela MTVstore e lá estava o maldito Rock Band, a maior caixa do mundo, ele levanta uma questão importante:
- Karen, como você vai levar essa caixa pra Europa?
- Ahhhh jura que vou carregar isso, né? Vou mandar entregar, nem quero saber.
Ele fica aliviado, mas vemos que ainda faltavam 2 horas pras lojas abrirem, então andamos procurando por outras.
- Quero tomar café da manhã! - Digo eu.
- Vamos. - Indicando o café de um hotel.
Tento entrar, mas ele me impede dizendo que ali deveria ser caríssimo e era apenas uma piada.
Era minha última manhã na cidade, eu não estava me importando muito com dinheiro. Queria comer algo realmente bom, afinal nada do que tinha comido até agora tinha sido ao menos aceitável e havia economizado ao máximo.
Entramos em uma Deli, peço um chocolate quente e digo pra ele escolher o que quiser.
- O que você quer dizer com isso?
- Que é por conta da casa.
- Não, vou comer em casa, vou fazer alguns ovos e...
- Coma aqui logo, até você chegar em casa...Além do mais é nosso último café da manhã.
- Você não vai me pagar coisas, não posso aceitar isso. Aliás, você deveria parar de gastar dinheiro, pois vai viajar, assim como eu.
- Como assim eu não posso te pagar nada? E você pode? Tenha dó, não? Mas Ok, se isso te faz feliz, você pode gastar até 15 dólares e pode comer ovos, presunto, bacon e todas essas coisas nojentas que vocês comem.
Ele aceita contrariado, sabia que eu não ia desistir tão cedo. Não gastou nem 3. Meu chocolate chega.
- Como está? - Pergunta ele.
- Pior ainda que todos os outros que já tomei nesse país. Por que vocês têm tanto desprezo pela humanidade? Tem gosto de leite de soja com água e achocolatado vagabundo. Que horror!
Ele se diverte com os meus comentários, sempre discutíamos por causa de comida.
- O que vai comer? Vou pedir um lanche especial de presunto, bacon e ovos pra você... - Rindo
- Me indica algo americano sem carne e sem nojeiras?
- Tem água, já tomou?
- Sério, vai. Queria sei lá, pão com manteiga...
Ele pede uma french toast pra ele e vai dando indicações para o atendente sobre o meu lanche. O homem tira uma coisa branca de um pote e passa na fatia do pão de forma.
- O que diabos é aquilo?
- Manteiga.
Fiquei com medo de ser manteiga mesmo, pois o cara havia tirado 2 kilos de dentro do pote e jogado na chapa. No final, meu lanche quase parecia um pão na chapa feito pelo tio do suco perto da minha casa. Obviamente o gosto não era o mesmo, mas depois de todos os traumas alimentares que havia passado nos Estados Unidos, aceitável queria dizer excelente.
Resolvo perguntar o que era uma french toast e recebo a explicação de que era um pão frito na manteiga, com ovo, leite e blábláblá. Fiquei em estado de choque. Por que diabos se chamava French Toast? Duvido que alguém comesse algo assim na França...
Quando "a coisa" chega, não parecia tão feia quanto imaginei. Se não soubesse do que era feita até teria arriscado. Ele me obriga a comer um pedaço e constato que não é tão ruim. Ele debocha dizendo que eu tinha achado bom e não queria dar o braço a torcer.


A french toast...

Saímos da Deli e continuamos a esperar pelas lojas. Passamos em frente à biblioteca pública e descobrimos que lá estava tendo uma exposição sobre o Kerouac , mas a biblioteca ainda não estava aberta. Depressão.
Na seqüência descubro que "Spam a Lot" musical dirigido pelo Eric Idle (Monty Python) também estava em cartaz e que eu ia embora sem ver. Penso em suicídio.
As 9h30, ele constata que precisa ir embora, vou com ele até a estação e nos despedimos rapidamente.
- Me escreve pra contar como foi sua viagem? - Diz ele.
- Não, você escreve, afinal vai chegar depois de mim.
- Tá bom (rindo), E-U te escrevo. Vou te ligar às 0h do dia 31 pra desejar Feliz Ano Novo se seu celular estiver funcionando, ok?
- Legal, acho que vai estar sim.
- então...
- Divirta-se um monte no Hawaii. Te vejo no ano que vem - digo isso sem certeza alguma.
- Espero que sim.
Ele me beija timidamente.
- Não, quero um beijo de verdade, Mister America.
Ele ri (eu havia dito exatamente a mesma coisa um ano atrás) e então me dá um beijo longo, sem se importar com o que os transeuntes vão pensar daquele PDA (Public Display of affection)*.
Observei ele descer as escadas e tive certeza que aquela havia sido a última vez que veria Mr. G.
No dia 4 de janeiro ele me escreveu um email curto pedindo desculpas por não ter ligado no reveillon, pois havia esquecido o cel em NY, e querendo notícias minhas.
Resolvo escrever só depois do carnaval, mas antes disso recebo outro email apenas dizendo "I´m sorry" no título e no corpo da mensagem.
Fico de coração apertado, mas mesmo assim demoro alguns dias para lhe responder resumindo minha viagem de forma divertida.
Nenhuma resposta.

E assim acaba definitivamente a história do Mr. Gardner e começa uma outra bem mais pesada (no sentido literal da palavra) : Karen Cunha e a caixa gigante conquistam a Europa.

* Eu sou uma Perfectly PDA... E VOCÊ?

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

A história do Gato (ou uma antes do desfecho)

Se você entrou nesse blog agora, saiba que esssa história começa aqui

Compramos um vinho numa adega, eles queriam minha opinião, mas eu estava pouco ligando pra tudo. Quem se importa com a qualidade do vinho numa hora dessas? Vejo uma cachaça no alto da prateleira, pergunto o preço e a vendedora diz que vai consultar em outra lista. Desisto, não vou sair do Brasil pra pagar milhões numa porra de uma cachaça de segunda. Agradeço e saio.
Na casa da tal prima percebo que estou morrendo de fome e então ele me prepara um bagel com manteiga de amendoim. Dou uma mordida e sigo tirando milhares de fotos do símbolo de que o café da manhã estadunidense é uó.


Percebam que só tem uma mordida sofrida no bagel. Por que será, né?

O cansaço faz meu inglês ficar pior a cada segundo, vou soltando uma frase e outra em português enquanto brinco com um gato que ninguém soube me dizer se era macho ou fêmea.
Permaneço de mochila, pronta pra sair a qualquer momento. Eu não queria mais tomar vinho, nem comer aquele bagel, nem conversar, só queria sumir.
- Por que você não fica? Se precisar ir eu te levo, não tem problema, só queria que soubesse que é bem-vinda aqui. Diz Mr. G
Com fome, frio e cansada ignoro a proposta por 2 vezes, na terceira lembro que não tinha sequer uma cama me aguardando no hostel...
- E a sua prima?
- Ela é uma boa pessoa, vai estar feliz se a gente estiver se divertindo. Além do mais ela sabe que o motivo de eu ter vindo pra cá, digo, UM DOS MOTIVOS de eu ter vindo pra Nova York foi pra ver você.

Faço cara de cu e "vou ficando". Fumamos juntos, relembramos alguns detalhes da nossa viagem à Argentina, trocamos impressões sobre diversos países e discutimos a imigração.
- Não entendo porque as pessoas pagam fortunas para ficar ilegalmente no país em vez de simplesmente pagar os impostos. Se eu fosse um governante também não ia permitir isso. É injusto com quem paga imposto.
- E você acha mesmo que a imigração americana ia permitir que essas pessoas entrassem no país sob a alegação de que estavam indo trabalhar? Você precisa ver o que eles passam...Eu tive que tirar um visto pra vir PASSEAR aqui. Gastei uma grana só pra provar que não tinha intenção de ficar. Isso porque eu tenho um emprego e todo o motivo do mundo pra não mudar para cá. Imagine então quem não tem.
Ele presta atenção no que eu digo, pensa e reconsidera. Daí me lembro do porque ele passou de “americano idiota” para "uma das pessoas mais adoráveis do mundo" em apenas uma noite: Nunca havia conhecido ninguém que soubesse rever seu ponto de vista no meio de uma discussão.
Paro de falar, eles saem para fumar lá fora e tiro um leve cochilo agarrada em minha mochila.
Eles voltam e continuam conversando, sou capaz de ouvir tudo o que dizem. Eles combinam o dia seguinte e detalhes da viagem. Mr. G diz que vai me levar de manhã e que estará de volta por volta das 11h. O amigo fica bravo achando que não vai dar tempo.
- Meu, eu tenho que levar ela. Vou de carro, sei lá.
Me sinto um estorvo e naquele momento tenho vontade de levantar e dizer que estava indo embora. Mas preferi continuar ouvindo a conversa, afinal quer coisa mais interessante do que ouvir alguém falar de você pelas costas?
Eu não estava entendo lá muita coisa, os rapazes do “Midwest” falam de uma forma engraçada (aliás gostaria muito de ter a oportunidade de imitar o sotaque pra vocês).
O amigo vai dormir, ele senta ao meu lado, levanta, arruma algumas coisas, me cobre e posso sentir a sua mão pelos meus cabelos.
Ele continua sentado ao meu lado e daí começa a história do (a) gato(a).
Já começo avisando que ninguém (exceto a Michelle e a Lorena) entende, mas ainda assim insisto em contar:
Enquanto Mr. G estava sentado e eu agarrada a minha mochila, o(a) gato(a) subiu em mim e resolveu não me deixar mais em paz. Cheirava o meu rosto, ronronava, subia em Mr. G, voltava, me olhava fixamente (e quando ele(a) me encarava eu era obrigada a abrir os olhos e ver o que tava rolando) com uma cara bem bizarra.
Ele(a) tanto fez que Mr. G o(a) retirou do sofá e resolveu se esticar próximo ao meu colo.
O(a) gato(a) volta para mim, me encarando seriamente, coloca o nariz no meu rosto, escala a minha cabeça, passa a pata no rosto de Mr.G, subia no rosto dele, lambia, voltava... Mr. G se irrita, tira a mochila do meu colo e chega mais perto (eu permaneço imóvel no melhor estilo "tô-dormindo-me-deixa").
O bichano permanece fiel ao plano maligno de não nos deixar dormir de forma alguma e em determinado momento ele(a) me irritou de tal modo que fiquei com calor e comecei a tirar os zilhares de casacos que estava vestindo.
O rapaz acorda rapidamente e pergunta se estou bem, digo que sim e vou ao banheiro. Quando volto, ele está acordado, esticado no sofá e me pede para deitar com ele. Eu estava um tanto quanto ensonada (essa palavra existe?) e acabei cedendo (ok, podem me condenar, mas dormir sentada estava muito desconfortável).
Me deito no peito dele, mas permaneço imóvel, ele passa a mão pelos meus cabelos, dá um beijo em minha cabeça. Tento não retribuir nada, até que fica insustentável e coloco a mão sobre o peito dele.
Ele me faz carinhos e depois de um longo período de carinhos tímidos me beija. O celular toca anunciando que era hora de partir.
O(a) gato(a) volta ao nosso colo, mas dessa vez bastante tranqüilo. Ele(a) queria apenas acompanhar a obra dele(a) e ser o centro das atenções.
Não conseguimos fazer e nem dizer mais nada um para outro, todas as nossas atenções se voltavam para o bichano, que nos encarava fortemente.
- Deve ser legal ser um gato, apenas lamber a si mesmo, esperar que as pessoas façam carinho... - Diz ele quebrando o silêncio.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Brooklyn Bridge ou 2 antes do fim.

E a história podia ter acabado no post anterior, mas como é uma história de Karen Cunha eu ainda fui ao museu. Era minha última noite livre em NY e eu realmente tinha que visitar o MOMA.
Não conseguia mais dar a mínima atenção a ele e conversava mais com o seu amigo. Era impossível esconder o meu descontentamento, tristeza e decepção. A cada 10 minutos ele perguntava:
- Are you mad with me?
E eu dizia coisas do tipo me poupe, tenha dó e derivados. Ele tentava me agradar o tempo todo e aquilo me irritava ainda mais.
- Você vai me odiar para o resto da vida, né?
- Nossa, chega! E a conversa terminava aí.
- A gente vai se ver no ano que vem, né? Isto é, se você ainda quiser minha companhia...
Eu estava começando a odiar aquele cara. Chegamos ao museu e eu mal trocava palavras com ele.
- Você gosta mais de impressionismo ou expressionismo?
Gente, porque eu sou obrigada a ouvir esse tipo de coisa? – pensei.
O Moma fechou exatos 25 minutos depois que a gente entrou, ou seja, não vimos nada.


Mas deu tempo de ver o Miró de perto. Tá? beijo e me liga!

Então seguimos para a Brooklyn Bridge, a única coisa que eu realmente queria ver em nova york. Eu havia esquecido minha amiga Fluox, minha companheira de fotos, estava acabando a bateria da minha máquina e para piorar o frio estava aumentando a cada segundo. Quando eu acho que nada pode piorar começa a chover e o frio congela os meus pés.
Chegando na ponte percebi que tudo aquilo tinha valido a pena. O lugar era mágico e por alguns minutos tudo ficou bem. Aquela vista me emocionou e naquele momento pensei em abandonar SP e me mudar pra lá...
Pena que nenhuma das minhas fotos ficou boa.



Não, não fui eu que tirei essa foto. Eu não acabei de dizer que as minhas não ficaram boas?

Ao sair da ponte eles decidem que estão cansados demais para irem para a balada e decidem ir para a casa da tal prima tomar um vinho.
- Você vem coma gente, né?
- Acho que deveria ir.
Quando eu disse que deveria ir eu estava me referindo a ir embora, mas ao entrar no metrô e seguir com eles pela plataforma da linha amarela abro o meu mapa e percebo que não faço idéia de onde estou.
Uma senhora para na minha frente e sorri. Eu digo olá sem entender o que estava se passando.
- Você sabe para onde está indo? – Diz simpaticamente a velhinha
- Eu não faço idéia, mas espero que ele saiba. – Apontando para Mr. G.
Ele vem em nossa direção sorridente para saber o que estava havendo.
- Oh desculpe querida, te vi com o mapa e imaginei que pudesse estar perdida. Diz a velhinha.
Eu pergunto onde estamos indo e ele diz que eu havia dito que queria ir com eles pra casa da tal prima. Respondo que não havia sido minha intenção aceitar o convite, mas ele me convence a ir e diz que me traria de volta a hora que eu quisesse.
Durante o trajeto ele me gravou um vídeo dizendo que estava feliz em me encontrar e triste por não poder passar outra noite comigo. Eu tive raiva daquilo na hora.
Chegamos ao Brooklyn e aquela foi realmente uma experiência sociológica interessante. As casas eram todas com fachadas pequenas e aquelas escadinhas clássicas de filmes. Os mercadinhos tinham a porta de vidro fechada e você tinha que tocar a campainha para entrar. Me senti num filme do Spike Lee.

sábado, fevereiro 09, 2008

Sindrome de Adriana Calcanhoto

Imaginem um casal sentado num banco, do lado de fora de um hostel às 5h da manhã. Você iria falar com eles?
E se este casal estivesse no maior clima de DR*. Você tentaria "puxar amizade"?
Pois é, foi nessas condições que estávamos quando um cara do Afeganistão que passou dias e dias me encarando veio pedir um isqueiro e caçar assunto.
Ele chega até nós, inicia um papo esdrúxulo sobre bigamia (???) conta que trabalha para o governo dos Estados unidos, diz que é impressionante como as mulheres de lá caem matando nos estrangeiros e que não sabe lidar muito bem com a situação de namorar 2 mulheres ao mesmo tempo.
- Quando trocar o nome delas peça desculpa e diga que não fala bem inglês- ironizei.
Ele demora séculos para se tocar e ir embora. Medo!
Quando ele finalmente saiu me lembrei que não tinha onde ficar no dia seguinte. Meu hostel estava lotado e não teria onde dormir antes do meu voo sair.
- Não se preocupe, você dorme na casa da minha prima. Amanhã eu pergunto pra ela e te aviso de manhã - diz Mr. G
- ok
- Agora preciso ir. A gente se fala amanhã.
No dia seguinte liguei para ele e combinamos de nos encontrar no Empire State às 15h.
Fico na net tentando descolar hospedagem de preferência PARA DOIS, pois jurava que ia me dar bem. Claude aparece, se indigna com o preço da net e me convida a usar o laptop dele.
Voltamos ao local do crime, o cheiro dele é algo que realmente não vai sair da minha memória olfativa. Falamos coisas vazias e sem importância.
- Como você é yuppie! - provoco eu.
- Pois é - Confirma ele.
- Acho que vou dar uma volta.
- Quando você voltar talvez eu não esteja mais. Meu voo sai às 5h então não sei se durmo aqui e saio às 3h ou se saio daqui 0h.
- Bom, neste caso, foi um prazer te conhecer, fique com o meu email caso passe por SP qualquer dia desses.
Ele me olha com cara de nada, agradece e saio por aí.
Acho um hostel para 2 com camas separadas pela "bagatela" de 140 dolares. Anoto o telefone e fico com essa carta na manga.
Havia enviado um email para Mr.G dizendo que só conseguiria chegar às 16h, óbviamente ele não pegou, e claro que eu demorei a achar o telefone dele e certamente não tinha moedas de 25 centavos para ligar.
Mas quando finalmente consegui, dava pra sentir que ele estava meio puto e combinou de me encontrar na 8ª avenida com a 47 em frente ao Mcdonald´s.
Chego a 8 com a 30. Ando, ando, pergunto, passo por 3 mcdonald´s e não chego na porra da 47. Quando esta finalmente aparece percebo que não havia nada por lá. Ando para comprar um novo cartão, finalmente consigo falar com ele e descubro que era no Mc da VINTE E SETE e não 47.
Ele estava um pouco bravo e combinamos de nos encontrar no metrô. Nos desencontramos, claro e vi um cara "batendo uma" na plataforma.
Quando por um milagre nos encontramos na saída do metrô o clima estava meio pesado. Convido ele para o hostel.
- Olha, na verdade não queria gastar muito dinheiro, pois vou viajar amanhã.
- Imagina, você é meu convidado, além do mais não comprei uma bota nova hoje.
Ele diz que não achava uma boa idéia eu ficar na casa da prima dele, eu concordo e insisto da idéia do hostel.
Entramos num PUB e ele então solta a máxima. A frase que vou carregar para o resto da minha vida:

- Eu não me sentiria bem passando a noite com você.

Meu mundo caiu naquele momento. Tudo o que eu queria era usufruir daquele corpo. Mesmo quando eu me sentia perdendo tempo procurando aquele ser eu mentalizava aquele abdomen e tinha forças para seguir em frente.
Quando ele me disse aquilo eu comecei a pensar se em algum outro momento na minha tive uma sensação de desamparo tão grande.
- Por que?
- Eu te contei porque. Eu não me sentiria bem, mas não pense que não quero. Aliás, é o que mais quero.
Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo. Eu podia imaginar tudo dando errado nessa viagem, mas com isso eu realmente não contava.
Quando saí do Brasil duvidei que fosse encontrá-lo novamente. Mas ele me ligou no dia do voo para ter certeza de que eu ia viajar e que queria vê-lo. Fazia questão de saber de tudo, mandou email no Valentine´s Day, ligou no dia dos namorados só pra dizer que ia viajar para onde eu fosse.
No dia em que finalmente nos reencontramos e ele pos os olhos em mim naquele PUB em East Side eu senti que ninguém no universo já havia me olhado daquele jeito antes. Fiquei assustada até, ele estava emocionado em me ver. E no final das contas...
- Mas, eu não entendo. Você tecnicamente traiu ela ontem...
- Karen, não se trata disso. Mas por favor não pense que eu não quero... Só não me sinto bem fazendo isso. E me sinto pior ainda por ter dito que você podia ficar na minha prima e que...
- Pelo amor de deus. Relaxa.
Sinto as ´sagrimas vindo rapidamente para o meu olho. Aquilo realmente me chocou. Eu estava longe de casa, sem os meus amigos, sem celular e então corri para o banheiro e chorei desesperadamente. Queria enfiar a cabeça na privada e morrer, mas uma pessoa impaciente que batia ferozmente na porta não me deu tempo para isso.
Volto a mesa.
- Você ainda vai ao Museu com a gente, né? - Diz ele.

domingo, fevereiro 03, 2008

Lost in Translation

Passamos a noite conversando e antes de sermos expulsos do bar concluímos que era hora de ir embora. O amigo vai para o Brooklin, nós rumamos para o meu hostel.
Pra variar não sabiamos como chegar até lá, mas eu já estava craque em pedir informações e me sentia segura o suficiente até para fazer piadinhas.
Ele ri da minha desenvoltura e então fica de pé na minha frente e diz que está muito feliz em me ver.
Conto pra ele como havia sido meu ano e quão atribulada tinha sido minha vida sentimental.
Já na porta do hostel, sentamos num banco e ele me faz uma série de perguntas e então me diz que não havia sido 100% honesto comigo e que estava saindo com uma garota, mas que não estava dando certo.
Fico sem entender o que tenho a ver com isso, mas mesmo assim pergunto o porquê da relação não estar dando certo.
- Você sabe, eu tenho uma filha e não posso deixar qualquer pessoa entrar na minha vida.
- E o que é que isso tem a ver? Você tem uma filha e por isso não pode ter uma namorada? A mãe dela tem um namorado, não?
- Sim, mas as coisas não estão bem.
- Por que?
- Você precisava ver, este foi o primeiro natal que ela ficou na minha casa. Ela já entende as tradições...de manhã abriu os presentes e foi tudo tão incrível, sabe?
- Que legal, mas o que te faz pensar que ter alguém estragaria isso?
- Não me parece certo...
- Nossa, mas o que não me parece certo é você estar com uma pessoa e ficar falando mal dela pelas costas. Parece aquele lance de tiozão canalha que fala pra amante que está casado apenas por causa das crianças ou que a esposa é doente. Eu não tô nem aí para o fato de você ter uma namorada. Quem se importa? Só acho totalmente nada a ver essa conversa de "não tô dando certo..."
- O que diabos você está dizendo, acha que não sou honesto com você? Também não tô pedindo em casamento nem nada*, também acho bom te ver uma vez por ano se você prefere assim.
- Não tô te julgando, só não entendi onde quer chegar. Por que você não pode conciliar sua filha e a sua namorada?
- Por que ela não gosta!
- De onde você tirou essa idéia?
- Ela me disse.
- E por que está dizendo isso pra mim?
- Por que faz pouco tempo que ela me disse isso. Você está achando que eu tô sendo desonesto com você?
- Não ainda, mas tenho medo de achar que não pode ser. Acho que a coisa que mais prezo no fim das contas é a verdade. Você ainda continua com a mãe da sua filha?
- Não. Claro que não.
- Você estava com algém quando nos conhecemos?
- Não, claro que não....

* ooooouch, essa doeu.