sexta-feira, dezembro 02, 2005

Cartas a ninguém...

“Eu escondo de mim o meu fracasso. Desisto. E tristemente coleciono frases de amor. Em português é "eu te amo”. Em francês-“Je t’ame”. Em inglês-”I love you”. Em italiano-“io t’amo”. Em espanhol-”yo te quiero”. Em alemão-” Ich liebe disch”, está certo? Logo eu, a mal amada. A grande decepcionada, a que cada noite experimenta a doçura da morte.”.

Clarice Lispector


Ninguém:

Não sei porque escrevo a ti. Talvez por querer me salvar. Já faz algum tempo em quem me perdi de mim. Simplesmente não encontrei palavras. Essas existem por si. São instantâneas e brotam conforme as transformo em letras. Em cada palavra aqui, pulsa um coração. Cada palavra é viva. Esse coração simplesmente é!
Sim. Quero que você me leia. Só não procure me entender. Complexidade sempre foi o meu melhor ato. Sou uma atriz! Faço minha entrada, digo minha fala e me vou. Às vezes me improviso! Não gosto de repetir espetáculos e por isso fujo do cotidiano. Meu maior medo... Não sei viver sem ser o que for sendo! E então me jogo ao acaso. Realidade? E se a realidade for que nada existiu? Quem sabe nada me aconteceu? O instante é feito por mim , ou se faz sozinho? Nunca te disse nem te direi quem sou! Sou implícita! Talvez um personagem de mim. Meu segredo intocável, perigoso e inviolável!
SEMPRE TRÊS QUALIDADES...
Sei que “ninguém” foge quando tudo começa a ficar bom... ”Ninguém” desconfia!
FALANDO SÉRIO... O QUE É QUE EU SOU?
Eu sou a forma que “ninguém” me deu. O real que “ninguém” quis. Um reflexo deformado do que “ninguém” deseja. Sou seu espelho e o reflexo de sua rosa! Sou sua perfeição desejada em alguém inesperado e indesejado! Sou seu medo do acaso, seu medo de felicidade, sou mil personagens em apenas um ser... Isso te assusta?
“Ninguém”sentiu em ti uma vibração perigosa de prazer e de simplicidade... Fugiu de sensações e prendeu-se num sentimento morto e doentio! Forjou o amor e seu fogo do inferno... “Ninguém” te deu o direito maior de errar...
“Ninguém” percebeu que só seria feliz forjando sua felicidade dentro de sua infelicidade...
O que escrevo a “ninguém” são puras inequações matemáticas irresolvíveis...
“Ninguém” não consegue ser livre. Fica com uma tal nostalgia que se persegue. Prende-se ao organizado. Tem medo de recriar!
Eu sou a “ninguém” sua loucura de perfeição! Aquilo que “ninguém” esculpiu, deu vida e... Quebrou! Não estava pronto para ter sua mais bela obra completada. Desistiu de voltar a moldar...
E , assim, abandonou a alma!
“Ninguém” vive sua vida imaginaria , que é viver do passado ou para o futuro. Vive a esperança . O presente te traz dores!
“Ninguém”não tem dom para a felicidade!
DETESTO-ME! Simplesmente! Sei de tudo antes de acontecer e isso me cansa... Gosto do imprevisível. Sou subjetiva. Talvez precise me purificar de mim. Deixar os roteiros, saber o release e improvisar!
“Ninguém” não mais me é. Porém ele nunca some! Dei-te a liberdade e “ninguém” me rodeia...Sombras?
Acabo sem despedidas...



Cristina Matsuoka