quinta-feira, janeiro 31, 2008

Psicopata Americano ou encontrando Mr. G.?


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Após 15 minutos esperando na plataforma chega o primeiro metrô. Na baldeação para o segundo descubro que os trens circulam espaçadamente durante a noite toda.
Desembarco na estação 8st, o site do Pub dizia que era bem próximo, mas ainda que tivesse certeza de que estava no caminho certo (perguntei para umas 4 pessoas diferentes) a primeira avenida não chegava nunca.
O bairro não me parecia lá muito seguro, as ruas estavam desertas e eu estava com uma bota de bico fino e cano alto.
Finalmente encontro a 1 av, me restava apenas encontrar o bendito Pub que ficava no número 42. Chego ao número 20 e não vejo nem sinal.
Um estranho me aborda:
- Olá, está perdida?
- Por favor, você sabe onde fica o DBA?
- Posso te acompanhar e te oferecer um drink?
- Não obrigada, estou indo encontrar meu namorado (mentira)
- De onde você?
- Brasil.
- Brasillll. Oooohhh!
- onde fica o DBA?
- Nooossa, fica na segunda avenida, você está indo pro lado errado. Eu te mostro onde fica.
Fico tensa com aquele estranho psicopata, mas considerando que em SP sou constantemente abordada por gente louca, achei que ele era até bem inofensivo perto do que já tive que suportar.
Minha tática nessas horas é manter o bom humor, fingir que não estou me sentindo ameaçada tampouco percebi que existe maldade na conversa, então mantive meu sorriso falso e a simpatia de agente de viagem.
Ele me acompanhou até a segunda avenida e esta me pareceu bem mais viável para abrigar um PUB, afinal nela tinha vários outros.
- Quero tomar uma cerveja com você. Qual a sua preferida?
- Não posso, a não ser que você queira encontrar o meu namorado. Ele é legal, você adoraria conhecer.
- Não, queria tomar uma só com você. Me dá o braço?
- Não, meu namorado vai ficar furioso, ele é um pouco ciumento e fica irritado com essas coisas.
- Ele também é do Brasil? (cara de desdém)
- Não, americano aqui de Nova York.
- Mas e agora, quero tomar uma cerveja com você. Um vira-vira.
- Não vai dar... Será que ainda ta longe?
- DBA você disse?
- Puuuutz, acho que ta fechado. Isso mesmo,está fechado, passei por lá agora pouco.
- Uhhhn... acho que não.
- Está fechado sim, tenho certeza.
- Acho que não, viu? Acabei de falar com meu namorado e ele estava lá.
- Mas agora você está perdida e longe de onde deveria estar. Que vai fazer agora?
- Desculpe, não entendi. (me fazendo de boba)
- Você ta perdida vai ter que sair comigo.
- Como? Desculpa, não entendi...
- Ah você não entende o que eu digo....
- Desculpa, não entendi. Acho que é mais seguro eu pegar um táxi, né? Tchau
Finjo que vou pegar um táxi que está parado no posto e pergunto ao taxista onde fica aquele endereço. Ele me explica que era exatamente onde estava antes e rumo pra lá a pé morrendo de medo.
Chego finalmente ao PUB, só tinha um naquela rua, por isso ninguém conhecia. Na entrada me pedem a identidade, elogiam meu casaco. Entrego meu passaporte e avisto Mr. G sentado com uma menina. Frio na barriga.
Ele me vê e levanta imediatamente. Pega o meu casaco e pergunta o que quero beber.
- Ah você não toma cerveja preta. Eu lembro.
- Pode ser qualquer uma clara.
Ele vai imediatamente buscar, chega um amigo dele que também conheci ano passado e fala comigo como se tivesse me visto ontem e então me apresenta sua amiga que parecia uma menina que conheço e não gosto.
Mr. G volta com a cerveja e me pede pra contar porque demorei tanto. Conto sobre o cara e ele ri de absolutamente tudo o que eu digo, me olhando fixamente como se não acreditasse na minha existência.
Ele passa as mãos sobre o cabelos e insiste na idéia de o seus lindo fios estavam caindo. Eu retruco que ele está viajando.
Pede pra tirar uma foto. A foto ridícula fica parecendo aquelas clássicas de casal em frente à Torre Eiffel.
- Nossa, você é tão incrivelmente fofa.*
- Eu sei. Todo mundo sabe – respondo ironicamente.
Ele ri.

* Entendam que fofa aqui é o mais próximo que consegui chegar de "cute". Portanto dispenso comentários do tipo "ele te chamou de gorda?" rs
Se alguém tiver uma tradução melhor me avise.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Subdesenvolvimento ou procurando Mr. G - parte II

Em Ny todo mundo tem um laptop e quase todos os lugares tem wireless, de modo que qualquer zé mané possa entrar na starbucks ou em alguma livraria e acessar confortavelmente os seus emails apreciando um bom café ou lendo algum livro de graça.
Para nós, subdesenvolvidos que não temos nem coragem de andar por aí com um celular de mais de R$100 quanto mais carregar um notebook, a coisa fica realmente feia.
Prova disso é que tive que atravessar Manhattan e voltar para o meu hostel somente para acessar a net pelo preço módico de 10 cents O MINUTO. (veja que faço questão de frisar esta informação).
Havia um email de Mr. G com um número de telefone e o endereço de um PUB. Consulto o endereço na net e após um longo estudo das zilhares de linhas do metrô, percebo que seria capaz de chegar lá após pegar uns 5 trens.
Respondo a mensagem dizendo que tentaria encontrar alguém do hostel para ir comigo (já passava das 22h30) e que certamente apareceria por lá.
Subo, dou um mini-tapa no visual e desço para a tarefa mais árdua da noite: descolar alguma alma gentil para me seguir nesta jornada.
No lobby encontro meus amigos mais próximos: Mathieu e Thommas, dois franceses muito engraçados que me acompanhavam na maior parte dos passeios.
- Wow, olha como ela tá arrumada, Thommas!
- Eu vi...
- Meninos, vamos a um PUB comigo?
- Vai encontrar aquele seu amigo?
- Espero que sim, né?
- Eu é que não vou conhecer esse "amigo" por nada nesse mundo. - Diz Thommas
- Ah meninos, vocês não podem deixar uma garota sozinha as 23h em East Side...
- O que eu não posso é ir com você encontrar um tal amigo que veio dirigindo de sei lá de onde... Algo me diz que não seria bem vindo.- Diz Mathieu
- Ai tenha dó, meninos.
- Além do mais a gente vai mudar de hostel amanhã de manhã e até onde eu sei a Srta. também não tem pra onde ir, pois o hostel está lotado. Vamos ficar num hostel que é uma bica de caro e as vagas estavam acabando.
- Sério? Nossa, quem sabe eu não vá pra lá com vocês?
- Duvido. Olha, Mathiew ela tá usando batom. Sente o perfume dela, olha!
- Cala a boca. Nossa, odeio vocês. A gente se vê amanhã. Mas que fique aqui resgistrado o meu repudio.
Encontro Sarah, uma garota inglesa que falava cerca de 600 palavras por segundo com um sotaque forte e que realmente achava que eu entendia o que ela dizia*.
- Novos amigos, hein? (cara de eu vi você com o outro dia desses)
- Eles? Ah sim, mas eles são só amigos mesmo....
- Sei, sei..
- Sim, to indo encontrar outro amigo...
- Nossa, você é o máximo. Gente, tô me sentindo tão quente com esse boné que eu ganhei. Nem eu mesma estou me aguentando.
- Vamos a um Pub comigo?
- Ai, não posso. Eu ainda estou doente e não poderia beber. O que vou fazer em um PUB?
- é....
- Ai mas eu sou sua fã. Vai lá encontrar o "amigo", vai... até!
Saio desolada do lobby e encontro Claude pelas escadas:
- Hey, por onde é que você tem andado?
(Sarah passa atrás e me lança um olhar de "é isso aí, garota")
- Por aqui. Tô indo a um Pub agora, a gente se vê.
- Onde é? Vou embora amanhã...
- Downtown, a gente se vê no café então.
- tá... tchau.
Subo as escadas, passo pela porta e entro no metrô com cara de "Sou da quebrada, mano". Era 23h55 e um casal briga do outro lado da plataforma. Ele grita com ela, ela esperneia e automaticamente me lembro do curta dos Irmãos Cohen em "Paris, Te Amo".
Resolvo tentar ligar para o número de Mr. Gardner mais uma vez e finalmente ele atende.
Peço para ele me esperar lá e não sair até eu chegar. Enquanto isso passa o metrô e não consigo desligar a tempo.
Xingo, esperneio, tenho um mini-ataque cardiaco e resolvo esperar. Sem ninguém para pedir informações, uma dúvida martela em minha cabeça: "Será que o metrô aqui passa até que horas?"

(continua...)

* Esta conversa durou bastante tempo, mas como eu não entendia o que ela dizia, isso foi mais ou menos o que consegui captar.

terça-feira, janeiro 15, 2008

O amigo americano

Os planos eram mudar para um hostel perto da Times Square no dia 26, mas só de lembrar do pesadelo que foi carregar aquela mala pelo metrô fiquei me sentindo doente e resolvi ficar onde estava mesmo.
O fato é que Mr. Gardner, que chegava no dia 27, não sabia da minha nova decisão, então a primeira coisa que fez ao chegar à Big Apple foi bater na porta do hostel onde eu deveria estar e procurar por mim. Não só teve a noticia de que eu havia cancelado minha estadia, como tomou uma bronca do cara da porta, pois o fiz de última hora.

Me lembrei de levar muitas coisas na viagem: zilhares de saquinhos zip lock, trocentas milhões de blusas e vestidos, 4 casacos grandes, remédios para todos os males porém esqueci de levar uma escova de cabelo e principalmente o CARREGADOR DE CELULAR.
Sem celular, sem notebook, sem internet cafés (não, isso não existe em NY) ficava dificil me comunicar com o mundo, mas mesmo assim pela "bagatela" de 10 cents O MINUTO, resolvi consultar os emails e escrever uns posts. Recebo um email dele dizendo que está indo pra o hostel e respondo explicando a situação e dizendo para ele pensar em algo para DEPOIS DAS 16h e responder o email ou ligar para o hostel.

Demorei horrores na loja, não comprei nada que valesse a pena e quando chego às 17h30 no hostel encontro 4 emails de Mr Gardner:
16h - estou no lobby do seu hostel
16h30 - onde você está?
16h40 - o que você está fazendo?
17h15 - me encontre na canal street e elizabeth.

(CONTINUA...)

sábado, janeiro 12, 2008

Claude, Le Chat

Ainda no Pub, as pessoas começam a se retirar pouco a pouco e só sobram Claude, eu, o gerente do hostel e uma menina de Washington. Os últimos decidem ir embora sem nos convidar para acompanhá-los. Entendemos a mensagem e ficamos lá mesmo observando um cara que sabia de cor todas as músicas do filme Dreamgirls.

Peço mais uma bebida e Irvin, o barman da casa, diz que aquela era por conta da casa. Bebo rapidamente por insistencia de Claude e rumamos para o hostel.
- Você já vai pro seu quarto? – pergunto a ele.
- Acho que sim e você?
- Queria embaçar um pouco lá no lounge, no meu quarto tem duas senhoras muito chatas preciso chegar lá e cair na cama direto.
- Ok, fico aqui um pouco com você.
O lounge era escuro e estava passando um programa sobre magia negra. A cada 2 minutos de programa eram 12 de comerciais bizarros.
- Aqui tem muitos comerciais, né?
- É....
Dois minutos sentindo aquele cheiro espetacular e a lingua dele já estava na minha boca.
- O que está acontecendo- Pergunta ele?
- Bom, tive a impressão de que foi um beijo, mas posso ter me enganada.
- Não sei. Foi assim? (me beijando)
- Não, acho que foi assim, ó (demonstrando)
Deitamos no sofá e ele começa a ronronar como um gato siamês.
- A que horas você vai dormir?
- Na hora que estiver cansada.
- A gente vai ficar aqui com esse monte de gente. (ronronando)
- Que é que tem? A gente só está deitado vendo um vídeo...
- Acho que o gerente do hostel e a menina de Washington vão se divertir hoje, hein?
- É, mas com certeza ele deve ter o próprio apartamento.
Ele me abraça, me beija, ronrona, faz carinho e reclama:
- A gente vai ficar aqui mesmo?
- Juro que não entendi o drama, você está mesmo sozinho aqui no hostel?
- (rindo) Claro que estou. Porque pergunta isso?
- Sei lá, você parece que está se escondendo de alguém...
- Não quero ficar aqui por causa disso (fazendo carinho na minha perna)
- Disso o quê?
Somos interrompidos por um garoto que pergunta se pode abaixar o som. Dizemos que sim.
- Disso aqui ó? (Me beijando e ronronando)
Uma menina que está sentada no sofá aumenta o som novamente.

Claude ronrona, passando o rosto pelo meu ombro. O mesmo menino levanta e abaixa o som novamente e a menina diz que ele estava fazendo muito barulho vendo um vídeo no laptop enquanto ela queria ver o programa. O menino xinga e volta para o laptop barulhento.
- Meu, porque ele não coloca um fone?
- Porque ele deve ser francês.
- Você conhece?
- Não, mas tenho certeza que ele é.
- Você parece um gato siamês. Você ronrona, reclama...
Ele passa a mão na minha perna, ronrona, me beija e diz:
- Voce vai ficar aqui mesmo?
- Vou.
- Então eu vou subir.
- Jura? (indignada
- Juro (ronronando). Vejo você amanhã.
- Então tchau.
Como um gato típico, ele se levanta como quem já obteve o carinho necessário para aquele dia e sobe para o seu quarto.
Continuo sentada sem ação e decido subir também.
No café da manhã, o vejo de longe e me escondo ardilosamente, afinal, sempre tive muita pena de me despedir dos gatos antes de sair de casa.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Condoleezza Rice

Após uma sessão de fotos com minha amiga Fluox (que vocês conhecerão em momento oportuno) decido que é momento de conhecer a noite nova iorquina. No mural do hostel um cartaz avisava sobre um passeio noturno pelos Pubs da região e adiro imediatamente ao movimento me apresentando pontualmente as 9pm no hall.
Andando com aqueles 11 desconhecidos, me senti numa serie de universidade do tipo “Felicity”, só que estava mais frio e não me sentia segura com o meu cabelo.
Chegamos ao primeiro Pub e estava fechado. O gerente do hostel fica super envergonhado, nos explica que é noite de natal, que não era ele quem fazia esses passeios normalmente e nos convida para outro lugar que também estava fechado.
Uma pessoa desiste.
Na porta do terceiro Pub ele nos avisa que aquele era um lugar muito diferente, especial, exótico e bastante divertido. Uma espécie de karaokê bem diferente....Fico desconfiada, mas a vontade de encher a cara extrapola qualquer outra.
Ele abre a porta cuidadosamente e os 10 jovens de diversas nacionalidades adentram o local extremamente colorido.
No balcão dois homens conversam bebendo uma margherita, no canto da pista dois homens dançam juntos uma musica da Beyonce.
Imediatamente um cara pula em mim e me obriga a dançar.
- De onde você vem?
- Brasil.
- Wooooow Giseleeeeeee Budchen
Sim amigos, era um Pub gay, e os dois meninos coreanos ficaram bastante chocados, mas tentaram esconder a surpresa atrás de suas câmeras enoooormes de última geração.
O gerente do hostel fazia de tudo para que todos se divertissem, sempre nos obrigando a conversar com os outros e a dançar.
Faço a gringa exótica e puxo amizade com as bichas e com o barman. Conversamos por um tempo, mas logo elas se cansam do clima “Albergue Espanhol”e se retiram com cara de “esse local já foi melhor freqüentado”.
Na pista o que há de pior no Dance, R & B e como não podia deixar de ser hits como: Footlose e Girls Just Wanna Have Fun.
Após muita dança e muitos drinks engato um papo com um francês que não bebia e nem fumava há 3 anos. Claude, não estava no AA, mas disse que já passou por poucas e boas por conta da bebida e decidiu que era hora de parar.
Um casal de meninos entra no bar e rapidamente se integra ao nosso grupo. Um deles sempre vinha conversar comigo e me olhava o tempo todo.
- Quer experimentar meu drink?
- Quero. Agora prova o meu...
Tirei fotos do casal dançando Sexual healing num momento bailinho e Claude me pergunta com desdém se eu nunca vi um casal gay na vida.
- Moro em São Paulo, fofo, você deveria perguntar se eu já vi algum casal hétero.
Emendamos um papo furado qualquer sobre nossas profissões mas eu, que não tenho olfato, não podia deixar se sentir o cheiro maravilhoso que vinha do cabelo dele.
Pouco tempo depois percebo que o cheiro incrível não vinha só do cabelo, mas também do rosto, da roupa, da mão, enfim...de todo ele.
O casal gay decide deixar o recinto e um deles vem se despedir:
- Tchau, você é muito simpática e foi muito bom te conhecer. Você é muito bonita. Você é escocesa, né?
- Hahahaha claro que não, sou brasileira.
- Poxa, que legal. Tá gostando do nosso país?
- Bastante. Pôxa, que pena que vocês já vão. Você e seu namorado são umas gracinhas... amei vocês.
- Só tem um problema... ele não é meu namorado.
- Ahhhhhh mas isso é questão de tempo.
- Não, é que eu sou hétero.
(silêncio)
- Ahhhh e ele é seu amigo?
- Na verdade ele meu gerente, eu sou barman...
(silêncio)
- Ah legal. Bom, adorei conhecer vocês. Beijos!

- Nossa, como ele é próximo do gerente dele, não? Debocha Claude
- Pois é, e eu sou a Condoleezza Rice.