terça-feira, janeiro 22, 2008

Subdesenvolvimento ou procurando Mr. G - parte II

Em Ny todo mundo tem um laptop e quase todos os lugares tem wireless, de modo que qualquer zé mané possa entrar na starbucks ou em alguma livraria e acessar confortavelmente os seus emails apreciando um bom café ou lendo algum livro de graça.
Para nós, subdesenvolvidos que não temos nem coragem de andar por aí com um celular de mais de R$100 quanto mais carregar um notebook, a coisa fica realmente feia.
Prova disso é que tive que atravessar Manhattan e voltar para o meu hostel somente para acessar a net pelo preço módico de 10 cents O MINUTO. (veja que faço questão de frisar esta informação).
Havia um email de Mr. G com um número de telefone e o endereço de um PUB. Consulto o endereço na net e após um longo estudo das zilhares de linhas do metrô, percebo que seria capaz de chegar lá após pegar uns 5 trens.
Respondo a mensagem dizendo que tentaria encontrar alguém do hostel para ir comigo (já passava das 22h30) e que certamente apareceria por lá.
Subo, dou um mini-tapa no visual e desço para a tarefa mais árdua da noite: descolar alguma alma gentil para me seguir nesta jornada.
No lobby encontro meus amigos mais próximos: Mathieu e Thommas, dois franceses muito engraçados que me acompanhavam na maior parte dos passeios.
- Wow, olha como ela tá arrumada, Thommas!
- Eu vi...
- Meninos, vamos a um PUB comigo?
- Vai encontrar aquele seu amigo?
- Espero que sim, né?
- Eu é que não vou conhecer esse "amigo" por nada nesse mundo. - Diz Thommas
- Ah meninos, vocês não podem deixar uma garota sozinha as 23h em East Side...
- O que eu não posso é ir com você encontrar um tal amigo que veio dirigindo de sei lá de onde... Algo me diz que não seria bem vindo.- Diz Mathieu
- Ai tenha dó, meninos.
- Além do mais a gente vai mudar de hostel amanhã de manhã e até onde eu sei a Srta. também não tem pra onde ir, pois o hostel está lotado. Vamos ficar num hostel que é uma bica de caro e as vagas estavam acabando.
- Sério? Nossa, quem sabe eu não vá pra lá com vocês?
- Duvido. Olha, Mathiew ela tá usando batom. Sente o perfume dela, olha!
- Cala a boca. Nossa, odeio vocês. A gente se vê amanhã. Mas que fique aqui resgistrado o meu repudio.
Encontro Sarah, uma garota inglesa que falava cerca de 600 palavras por segundo com um sotaque forte e que realmente achava que eu entendia o que ela dizia*.
- Novos amigos, hein? (cara de eu vi você com o outro dia desses)
- Eles? Ah sim, mas eles são só amigos mesmo....
- Sei, sei..
- Sim, to indo encontrar outro amigo...
- Nossa, você é o máximo. Gente, tô me sentindo tão quente com esse boné que eu ganhei. Nem eu mesma estou me aguentando.
- Vamos a um Pub comigo?
- Ai, não posso. Eu ainda estou doente e não poderia beber. O que vou fazer em um PUB?
- é....
- Ai mas eu sou sua fã. Vai lá encontrar o "amigo", vai... até!
Saio desolada do lobby e encontro Claude pelas escadas:
- Hey, por onde é que você tem andado?
(Sarah passa atrás e me lança um olhar de "é isso aí, garota")
- Por aqui. Tô indo a um Pub agora, a gente se vê.
- Onde é? Vou embora amanhã...
- Downtown, a gente se vê no café então.
- tá... tchau.
Subo as escadas, passo pela porta e entro no metrô com cara de "Sou da quebrada, mano". Era 23h55 e um casal briga do outro lado da plataforma. Ele grita com ela, ela esperneia e automaticamente me lembro do curta dos Irmãos Cohen em "Paris, Te Amo".
Resolvo tentar ligar para o número de Mr. Gardner mais uma vez e finalmente ele atende.
Peço para ele me esperar lá e não sair até eu chegar. Enquanto isso passa o metrô e não consigo desligar a tempo.
Xingo, esperneio, tenho um mini-ataque cardiaco e resolvo esperar. Sem ninguém para pedir informações, uma dúvida martela em minha cabeça: "Será que o metrô aqui passa até que horas?"

(continua...)

* Esta conversa durou bastante tempo, mas como eu não entendia o que ela dizia, isso foi mais ou menos o que consegui captar.