quarta-feira, fevereiro 13, 2008

A história do Gato (ou uma antes do desfecho)

Se você entrou nesse blog agora, saiba que esssa história começa aqui

Compramos um vinho numa adega, eles queriam minha opinião, mas eu estava pouco ligando pra tudo. Quem se importa com a qualidade do vinho numa hora dessas? Vejo uma cachaça no alto da prateleira, pergunto o preço e a vendedora diz que vai consultar em outra lista. Desisto, não vou sair do Brasil pra pagar milhões numa porra de uma cachaça de segunda. Agradeço e saio.
Na casa da tal prima percebo que estou morrendo de fome e então ele me prepara um bagel com manteiga de amendoim. Dou uma mordida e sigo tirando milhares de fotos do símbolo de que o café da manhã estadunidense é uó.


Percebam que só tem uma mordida sofrida no bagel. Por que será, né?

O cansaço faz meu inglês ficar pior a cada segundo, vou soltando uma frase e outra em português enquanto brinco com um gato que ninguém soube me dizer se era macho ou fêmea.
Permaneço de mochila, pronta pra sair a qualquer momento. Eu não queria mais tomar vinho, nem comer aquele bagel, nem conversar, só queria sumir.
- Por que você não fica? Se precisar ir eu te levo, não tem problema, só queria que soubesse que é bem-vinda aqui. Diz Mr. G
Com fome, frio e cansada ignoro a proposta por 2 vezes, na terceira lembro que não tinha sequer uma cama me aguardando no hostel...
- E a sua prima?
- Ela é uma boa pessoa, vai estar feliz se a gente estiver se divertindo. Além do mais ela sabe que o motivo de eu ter vindo pra cá, digo, UM DOS MOTIVOS de eu ter vindo pra Nova York foi pra ver você.

Faço cara de cu e "vou ficando". Fumamos juntos, relembramos alguns detalhes da nossa viagem à Argentina, trocamos impressões sobre diversos países e discutimos a imigração.
- Não entendo porque as pessoas pagam fortunas para ficar ilegalmente no país em vez de simplesmente pagar os impostos. Se eu fosse um governante também não ia permitir isso. É injusto com quem paga imposto.
- E você acha mesmo que a imigração americana ia permitir que essas pessoas entrassem no país sob a alegação de que estavam indo trabalhar? Você precisa ver o que eles passam...Eu tive que tirar um visto pra vir PASSEAR aqui. Gastei uma grana só pra provar que não tinha intenção de ficar. Isso porque eu tenho um emprego e todo o motivo do mundo pra não mudar para cá. Imagine então quem não tem.
Ele presta atenção no que eu digo, pensa e reconsidera. Daí me lembro do porque ele passou de “americano idiota” para "uma das pessoas mais adoráveis do mundo" em apenas uma noite: Nunca havia conhecido ninguém que soubesse rever seu ponto de vista no meio de uma discussão.
Paro de falar, eles saem para fumar lá fora e tiro um leve cochilo agarrada em minha mochila.
Eles voltam e continuam conversando, sou capaz de ouvir tudo o que dizem. Eles combinam o dia seguinte e detalhes da viagem. Mr. G diz que vai me levar de manhã e que estará de volta por volta das 11h. O amigo fica bravo achando que não vai dar tempo.
- Meu, eu tenho que levar ela. Vou de carro, sei lá.
Me sinto um estorvo e naquele momento tenho vontade de levantar e dizer que estava indo embora. Mas preferi continuar ouvindo a conversa, afinal quer coisa mais interessante do que ouvir alguém falar de você pelas costas?
Eu não estava entendo lá muita coisa, os rapazes do “Midwest” falam de uma forma engraçada (aliás gostaria muito de ter a oportunidade de imitar o sotaque pra vocês).
O amigo vai dormir, ele senta ao meu lado, levanta, arruma algumas coisas, me cobre e posso sentir a sua mão pelos meus cabelos.
Ele continua sentado ao meu lado e daí começa a história do (a) gato(a).
Já começo avisando que ninguém (exceto a Michelle e a Lorena) entende, mas ainda assim insisto em contar:
Enquanto Mr. G estava sentado e eu agarrada a minha mochila, o(a) gato(a) subiu em mim e resolveu não me deixar mais em paz. Cheirava o meu rosto, ronronava, subia em Mr. G, voltava, me olhava fixamente (e quando ele(a) me encarava eu era obrigada a abrir os olhos e ver o que tava rolando) com uma cara bem bizarra.
Ele(a) tanto fez que Mr. G o(a) retirou do sofá e resolveu se esticar próximo ao meu colo.
O(a) gato(a) volta para mim, me encarando seriamente, coloca o nariz no meu rosto, escala a minha cabeça, passa a pata no rosto de Mr.G, subia no rosto dele, lambia, voltava... Mr. G se irrita, tira a mochila do meu colo e chega mais perto (eu permaneço imóvel no melhor estilo "tô-dormindo-me-deixa").
O bichano permanece fiel ao plano maligno de não nos deixar dormir de forma alguma e em determinado momento ele(a) me irritou de tal modo que fiquei com calor e comecei a tirar os zilhares de casacos que estava vestindo.
O rapaz acorda rapidamente e pergunta se estou bem, digo que sim e vou ao banheiro. Quando volto, ele está acordado, esticado no sofá e me pede para deitar com ele. Eu estava um tanto quanto ensonada (essa palavra existe?) e acabei cedendo (ok, podem me condenar, mas dormir sentada estava muito desconfortável).
Me deito no peito dele, mas permaneço imóvel, ele passa a mão pelos meus cabelos, dá um beijo em minha cabeça. Tento não retribuir nada, até que fica insustentável e coloco a mão sobre o peito dele.
Ele me faz carinhos e depois de um longo período de carinhos tímidos me beija. O celular toca anunciando que era hora de partir.
O(a) gato(a) volta ao nosso colo, mas dessa vez bastante tranqüilo. Ele(a) queria apenas acompanhar a obra dele(a) e ser o centro das atenções.
Não conseguimos fazer e nem dizer mais nada um para outro, todas as nossas atenções se voltavam para o bichano, que nos encarava fortemente.
- Deve ser legal ser um gato, apenas lamber a si mesmo, esperar que as pessoas façam carinho... - Diz ele quebrando o silêncio.