sábado, fevereiro 09, 2008

Sindrome de Adriana Calcanhoto

Imaginem um casal sentado num banco, do lado de fora de um hostel às 5h da manhã. Você iria falar com eles?
E se este casal estivesse no maior clima de DR*. Você tentaria "puxar amizade"?
Pois é, foi nessas condições que estávamos quando um cara do Afeganistão que passou dias e dias me encarando veio pedir um isqueiro e caçar assunto.
Ele chega até nós, inicia um papo esdrúxulo sobre bigamia (???) conta que trabalha para o governo dos Estados unidos, diz que é impressionante como as mulheres de lá caem matando nos estrangeiros e que não sabe lidar muito bem com a situação de namorar 2 mulheres ao mesmo tempo.
- Quando trocar o nome delas peça desculpa e diga que não fala bem inglês- ironizei.
Ele demora séculos para se tocar e ir embora. Medo!
Quando ele finalmente saiu me lembrei que não tinha onde ficar no dia seguinte. Meu hostel estava lotado e não teria onde dormir antes do meu voo sair.
- Não se preocupe, você dorme na casa da minha prima. Amanhã eu pergunto pra ela e te aviso de manhã - diz Mr. G
- ok
- Agora preciso ir. A gente se fala amanhã.
No dia seguinte liguei para ele e combinamos de nos encontrar no Empire State às 15h.
Fico na net tentando descolar hospedagem de preferência PARA DOIS, pois jurava que ia me dar bem. Claude aparece, se indigna com o preço da net e me convida a usar o laptop dele.
Voltamos ao local do crime, o cheiro dele é algo que realmente não vai sair da minha memória olfativa. Falamos coisas vazias e sem importância.
- Como você é yuppie! - provoco eu.
- Pois é - Confirma ele.
- Acho que vou dar uma volta.
- Quando você voltar talvez eu não esteja mais. Meu voo sai às 5h então não sei se durmo aqui e saio às 3h ou se saio daqui 0h.
- Bom, neste caso, foi um prazer te conhecer, fique com o meu email caso passe por SP qualquer dia desses.
Ele me olha com cara de nada, agradece e saio por aí.
Acho um hostel para 2 com camas separadas pela "bagatela" de 140 dolares. Anoto o telefone e fico com essa carta na manga.
Havia enviado um email para Mr.G dizendo que só conseguiria chegar às 16h, óbviamente ele não pegou, e claro que eu demorei a achar o telefone dele e certamente não tinha moedas de 25 centavos para ligar.
Mas quando finalmente consegui, dava pra sentir que ele estava meio puto e combinou de me encontrar na 8ª avenida com a 47 em frente ao Mcdonald´s.
Chego a 8 com a 30. Ando, ando, pergunto, passo por 3 mcdonald´s e não chego na porra da 47. Quando esta finalmente aparece percebo que não havia nada por lá. Ando para comprar um novo cartão, finalmente consigo falar com ele e descubro que era no Mc da VINTE E SETE e não 47.
Ele estava um pouco bravo e combinamos de nos encontrar no metrô. Nos desencontramos, claro e vi um cara "batendo uma" na plataforma.
Quando por um milagre nos encontramos na saída do metrô o clima estava meio pesado. Convido ele para o hostel.
- Olha, na verdade não queria gastar muito dinheiro, pois vou viajar amanhã.
- Imagina, você é meu convidado, além do mais não comprei uma bota nova hoje.
Ele diz que não achava uma boa idéia eu ficar na casa da prima dele, eu concordo e insisto da idéia do hostel.
Entramos num PUB e ele então solta a máxima. A frase que vou carregar para o resto da minha vida:

- Eu não me sentiria bem passando a noite com você.

Meu mundo caiu naquele momento. Tudo o que eu queria era usufruir daquele corpo. Mesmo quando eu me sentia perdendo tempo procurando aquele ser eu mentalizava aquele abdomen e tinha forças para seguir em frente.
Quando ele me disse aquilo eu comecei a pensar se em algum outro momento na minha tive uma sensação de desamparo tão grande.
- Por que?
- Eu te contei porque. Eu não me sentiria bem, mas não pense que não quero. Aliás, é o que mais quero.
Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo. Eu podia imaginar tudo dando errado nessa viagem, mas com isso eu realmente não contava.
Quando saí do Brasil duvidei que fosse encontrá-lo novamente. Mas ele me ligou no dia do voo para ter certeza de que eu ia viajar e que queria vê-lo. Fazia questão de saber de tudo, mandou email no Valentine´s Day, ligou no dia dos namorados só pra dizer que ia viajar para onde eu fosse.
No dia em que finalmente nos reencontramos e ele pos os olhos em mim naquele PUB em East Side eu senti que ninguém no universo já havia me olhado daquele jeito antes. Fiquei assustada até, ele estava emocionado em me ver. E no final das contas...
- Mas, eu não entendo. Você tecnicamente traiu ela ontem...
- Karen, não se trata disso. Mas por favor não pense que eu não quero... Só não me sinto bem fazendo isso. E me sinto pior ainda por ter dito que você podia ficar na minha prima e que...
- Pelo amor de deus. Relaxa.
Sinto as ´sagrimas vindo rapidamente para o meu olho. Aquilo realmente me chocou. Eu estava longe de casa, sem os meus amigos, sem celular e então corri para o banheiro e chorei desesperadamente. Queria enfiar a cabeça na privada e morrer, mas uma pessoa impaciente que batia ferozmente na porta não me deu tempo para isso.
Volto a mesa.
- Você ainda vai ao Museu com a gente, né? - Diz ele.