Muito álcool, alguns sms, muita conversa e alguns capítulos de "How to Be Good" (Nick Hornby) depois e Karen Cunha, 27, descobre que se tornou a pessoa mais chata que conhece.
Mais chata do que as pessoas mais chatas que precisa encontrar de vez em quando por questões sociais ou políticas, mais tediosa que reunião de condomínio (se bem que no prédio da Pryyhscyllah, a Rainha do Centro, deve ser bem divertido) e mais intragável que festa de poetas e atores.
Puta que pariu, eu não paro de reclamar um segundo. Não é possível que exista tanta amargura em uma pessoa só.
Eu não fui sempre assim, era uma criança feliz e alegre, na escola organizava as festas do grêmio, no cursinho apresentava as pessoas umas para as outras, sabia "tudo o que tava rolando na cidade" e agora eu mal consigo ter uma conversa completa sem preferir estar morta.
Semana passada gastei os meus 50 minutos de terapia tentando lembrar quando foi exatamente que me tornei essa pessoa tão descrente e melancólica. Quando diabos foi que deixei pra trás qualquer esperança de uma vida melhor?
40 minutos depois e bingo, estava lá minha resposta: o fim do meu primeiro e único namoro sério.
Por algum motivo eu sempre tive a ligeira impressão de que esse lance de amor não era pra mim, até que um dia, numa dessas festas que eu me divertia (antes), conheci um menino muito diferente, mas ao mesmo tempo muito parecido comigo. Pouco tempo depois e da forma mais saudável possível, digna de qualquer filme de adolescente, começamos a namorar.
Descobrimos juntos o que era estar apaixonado, combinamos exatamente como seria nosso relacionamento: o que era ou não aceitável, como agiríamos em milhares de situações hipotéticas... Ele era meu sócio naquele projeto e não eramos do tipo de gente que entra num negócio pra perder.
De repente eu estava aprendendo a lidar muito bem com aquelas coisas de conhecer família, ver filme no fim-de-semana, comer pizza com os meus pais, deixar espaço para que nos divertissemos separadamente e por alguns instantes cheguei acreditar que aquilo tudo era possível para mim.
Eu estava muito apaixonada, mas não estava enlouquecida. Tudo era calmo, bonito...
Nosso relacionamento era aberto, o que não quer dizer que saíamos com todo mundo, mas aquele combinado nos livrava de DRs intermináveis no caso de algum dos dois encher a cara e catar um DESCONHECIDO QUALQUER.
Tudo estava certo, até que de alguma forma violei o acordo e passei a conviver demais com o "desconhecido qualquer". Em pouco tempo o que era namoro virou uma competição.
O relacionamento terminou da pior forma possível, sofri desesperadamente e não me dei tempo suficiente para lidar com esta perda, me enfiei em outro projeto: passar no vestibular.
Eu me sentia imunda, como podia ser tão maldita e escrota a ponto de estragar a minha única chance? Precisava me redimir com o universo, ser uma pessoa boa, ajudar o próximo, salvar o mundo e então (contrariando a lógica e o bom-senso) resolvi prestar PEDAGOGIA!
Passei no vestibular e a falta de objetivo aliada a certeza de que eu havia feito mais uma burrada me fizeram entrar em depressão profunda.
Chorava o tempo todo, não sabia de onde vinha tanta tristeza e tenho certeza absoluta que antes deste período jamais havia questionado a minha existência ou a lógica do mundo.
Comecei a fazer terapia, ainda que eu não soubesse bem o porquê.
Aos poucos parei de querer chorar, de achar que as pessoas iam atirar em mim na rua, voltei a conversar, tive alguns relacionamentos superficiais ou bizarros, mas nunca mais fui a mesma pessoa.
Eu me acostumei a não acreditar em mais nada, a guardar bem lá no fundo todas as coisas boas que eu poderia dividir com alguém. Sim, essas coisas boas existem lá nas profundezas de Karen Cunha. Descobri alguns meses atrás, quando me surpreendi dando e recebendo essas coisas de alguém que também guardava tudo muito bem escondidinho.
Cansei de ser o "Homem Mais Irritado de Holloway", cansei de guardar coisas, de me proteger e de ser tão chata, seca, maleta, mal-humorada e antipática. E se algum dia eu te der bom-dia, ou dizer simplemente que você é uma pessoa importante, por favor, aceite que deve ser de coração.
Ah e a propósito, eu tenho um coração!
Mais chata do que as pessoas mais chatas que precisa encontrar de vez em quando por questões sociais ou políticas, mais tediosa que reunião de condomínio (se bem que no prédio da Pryyhscyllah, a Rainha do Centro, deve ser bem divertido) e mais intragável que festa de poetas e atores.
Puta que pariu, eu não paro de reclamar um segundo. Não é possível que exista tanta amargura em uma pessoa só.
Eu não fui sempre assim, era uma criança feliz e alegre, na escola organizava as festas do grêmio, no cursinho apresentava as pessoas umas para as outras, sabia "tudo o que tava rolando na cidade" e agora eu mal consigo ter uma conversa completa sem preferir estar morta.
Semana passada gastei os meus 50 minutos de terapia tentando lembrar quando foi exatamente que me tornei essa pessoa tão descrente e melancólica. Quando diabos foi que deixei pra trás qualquer esperança de uma vida melhor?
40 minutos depois e bingo, estava lá minha resposta: o fim do meu primeiro e único namoro sério.
Por algum motivo eu sempre tive a ligeira impressão de que esse lance de amor não era pra mim, até que um dia, numa dessas festas que eu me divertia (antes), conheci um menino muito diferente, mas ao mesmo tempo muito parecido comigo. Pouco tempo depois e da forma mais saudável possível, digna de qualquer filme de adolescente, começamos a namorar.
Descobrimos juntos o que era estar apaixonado, combinamos exatamente como seria nosso relacionamento: o que era ou não aceitável, como agiríamos em milhares de situações hipotéticas... Ele era meu sócio naquele projeto e não eramos do tipo de gente que entra num negócio pra perder.
De repente eu estava aprendendo a lidar muito bem com aquelas coisas de conhecer família, ver filme no fim-de-semana, comer pizza com os meus pais, deixar espaço para que nos divertissemos separadamente e por alguns instantes cheguei acreditar que aquilo tudo era possível para mim.
Eu estava muito apaixonada, mas não estava enlouquecida. Tudo era calmo, bonito...
Nosso relacionamento era aberto, o que não quer dizer que saíamos com todo mundo, mas aquele combinado nos livrava de DRs intermináveis no caso de algum dos dois encher a cara e catar um DESCONHECIDO QUALQUER.
Tudo estava certo, até que de alguma forma violei o acordo e passei a conviver demais com o "desconhecido qualquer". Em pouco tempo o que era namoro virou uma competição.
O relacionamento terminou da pior forma possível, sofri desesperadamente e não me dei tempo suficiente para lidar com esta perda, me enfiei em outro projeto: passar no vestibular.
Eu me sentia imunda, como podia ser tão maldita e escrota a ponto de estragar a minha única chance? Precisava me redimir com o universo, ser uma pessoa boa, ajudar o próximo, salvar o mundo e então (contrariando a lógica e o bom-senso) resolvi prestar PEDAGOGIA!
Passei no vestibular e a falta de objetivo aliada a certeza de que eu havia feito mais uma burrada me fizeram entrar em depressão profunda.
Chorava o tempo todo, não sabia de onde vinha tanta tristeza e tenho certeza absoluta que antes deste período jamais havia questionado a minha existência ou a lógica do mundo.
Comecei a fazer terapia, ainda que eu não soubesse bem o porquê.
Aos poucos parei de querer chorar, de achar que as pessoas iam atirar em mim na rua, voltei a conversar, tive alguns relacionamentos superficiais ou bizarros, mas nunca mais fui a mesma pessoa.
Eu me acostumei a não acreditar em mais nada, a guardar bem lá no fundo todas as coisas boas que eu poderia dividir com alguém. Sim, essas coisas boas existem lá nas profundezas de Karen Cunha. Descobri alguns meses atrás, quando me surpreendi dando e recebendo essas coisas de alguém que também guardava tudo muito bem escondidinho.
Cansei de ser o "Homem Mais Irritado de Holloway", cansei de guardar coisas, de me proteger e de ser tão chata, seca, maleta, mal-humorada e antipática. E se algum dia eu te der bom-dia, ou dizer simplemente que você é uma pessoa importante, por favor, aceite que deve ser de coração.
Ah e a propósito, eu tenho um coração!
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